segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Sobre direito e avesso

 Tenho recebido muitas perguntas - N O V A M E N T E - sobre o avesso do ponto cruz e tenho escutado muitas bordadeiras infelizes por que não sabem fazer o "avesso perfeito". Assim sendo, eu resolvi postar um artigo que escrevi em 1998, no auge da "Crise do Avesso Perfeito".
Minha opinião sobre este tipo de avesso mudou muito pouco, mas devo acrescentar que cheguei a uma nova conclusão sobre o avesso das boas bordadeiras: quando olho os pontos dados pelo avesso, eu consigo perceber a correção e/ou a exatidão na maneira de executar os pontos. De modo que eu vejo uma boa bordadeira pelo avesso sim, pois consigo perceber o modo como foram dados os pontos e isto é mais importante do uma suposta "perfeiçao" que pretende ser o avesso mais importante que o direito.

Bom, Rosangela de Teófilo Otoni, será que você vai ficar um pouco mais contente com seu ponto cruz?
Sobre direito e avesso

Não se passa nenhum dia, mas nenhum dia mesmo, sem que alguém me fale sobre o problema do avesso de um trabalho de ponto cruz. Passam-se muitos dias sem que alguém me fale sobre problemas no direito de um trabalho. 
      Estranho, para dizer o mínimo. Ao que parece, o conceito de que a qualidade de um bordado é medida pelo avesso tem muitos adeptos, particularmente entre as pessoas que não bordam. São aquelas pessoas que cometem sempre a suprema indelicadeza de olhar primeiro o avesso de um trabalho, não  importa em que situação e sem saber que estão fazendo uma enorme grosseria  - afinal, o trabalho de quem bordou não interessa, apenas o avesso importa.
Esta desmedida preocupação com o avesso me incomoda, gostaria que fosse  o inverso, pois alguma coisa está errada nesta inversão de prioridades. Além disto, de onde é que saiu a idéia de que a qualidade de um bordado está no avesso? Alguém pensa nisto? Como um conceito desta natureza pode ser assimilado sem qualquer consideração? Eu tenho como regra nunca olhar o avesso de um trabalho se o direito  não me satisfaz. Muitas pessoas me apresentam trabalhos pelo avesso, como  se isto me informasse alguma coisa sobre o bordado. Eu pura e simplesmente         me recuso a avaliar um trabalho pelo avesso. Minha prioridade é sempre o direito do trabalho. Considero que um trabalho cujo direito está bem feito, tem, necessariamente o melhor avesso possível, caso contrário, o direito também não estaria bom. Toda e qualquer técnica de melhoria de avesso prejudica o direito - esta  é uma regra sem exceção.
Não existe avesso perfeito em ponto cruz - existe um conceito segundo o qual perfeito é aquele em que todos os pontos do  avesso são verticais, cobrem apenas e tão somente um quadrado do tecido, sendo arrematados pelo direito. Este conceito de "avesso perfeito" leva a um direito muito, mas muito imperfeito mesmo! Um avesso realmente perfeito deve ser feito com o uso da técnica de ponto cruz sem avesso - sem avesso por que faz o X dos dois lados, sendo contornado         com ponto Medici. Sabe-se que é literalmente impossível bordar um esquema complexo com este tipo de ponto. O avesso só é importante quando vai ficar aparente - todo o resto merece ter um "avesso limpo".
"Avesso perfeito" depende muito do tipo de esquema que está sendo bordado, pois alguns esquemas tornam impossível este tipo de avesso. Depende do raciocínio lógico, é preciso saber achar o "caminho" para bordar. Exige  a mais rigorosa disciplina no tocante ao direito, pois o grande problema  é a perda da regularidade dos pontos e a execução de pontos com sentido         diferente. 
O bordado foi executado para ser visto pelo direito. Toda e qualquer  técnica de melhoria de avesso só deve ser aplicada considerando o direito do trabalho como prioritário. Não merece qualquer consideração um trabalho que apresenta um avesso perfeito e um direito cheio de problemas - não há o que apreciar, uma vez que o trabalho foi feito para ser visto pelo direito e não pelo avesso.
 A "neurose" com o avesso prejudica o trabalho e raramente deixa de indicar problemas com o direito. A correção dos problemas na execução do trabalho,  considerando o direito é fundamental e costuma acabar rapidamente com  a "neurose". Uma boa bordadeira é facilmente reconhecível, ela nunca é  "neurótica" com o avesso, pois sabe que o direito perfeito leva ao melhor  avesso possível, dadas as características do esquema que está bordando. E nunca, mas nunca mesmo, prejudica o direito do trabalho para melhorar o avesso quando isto não for importante. 
De todo modo, para quem insiste no famoso; "Avesso Perfeito" deve, pelo menos, observar as regras seguintes: 
1 - O direito tem que estar perfeito O direito perfeito é aquele que  apresenta a máxima regularidade e uniformidade nos pontos; a tensão é  igual e todos os pontos cruzam para o mesmo lado. Os fios se apresentam bem espalhados pelo tecido, cobrindo o tecido sem fazer volume e não mostram         sinais de estarem torcidos. 
2 - A agulha entra e sai do tecido apenas verticalmente Não importa se agulha entra em cima e sai embaixo ou se entra embaixo e sai em cima. Isto leva à necessidade de usar a técnica da inversão - fazer o ponto de cobertura antes do ponto base e no momento de finalizar o ponto, passar por baixo. 
3 - Muda o conceito de trabalho em carreiras Não se procura a carreira ideal para começar e nem mesmo existe preocupação de completar os pontos - o que se procura é o "caminho", o melhor modo de executar uma porção do bordado que seja próxima e da mesma cor. Trata-se de um processo de raciocínio, de leitura do esquema, através do qual vai ser projetado o "caminho" a ser feito.  
4 - Os contornos devem ser feitos com ponto Medici, embora este ponto não resulte em contornos tão regulares quanto o ponto atrás. Use para contornar ponto cruz apenas quando o avesso for aparente, pois com este ponto avesso e direito são idênticos. Este ponto tem vários nomes, podendo aparecer como: Holbein, linear, escrito, ou em inglês, Runing Stitch. Este ponto é feito em qualquer direção e em duas passagens, o que torna mais fácil achar o "caminho" para "andar" no esquema. É como um alinhavo, a primeira passagem faz um ponto pelo direito e um ponto pelo avesso; a segunda passagem completa a carreira, de ambos os lados. O avesso deve ficar idêntico ao direito Pode ser iniciado em qualquer ponto do bordado. Os arremates (inicial e final) são sempre feitos depois de dar os pontos e sempre nos pontos que foram feitos.  
5 - Os arremates pelo direito não são aceitáveis. Afinal, trata-se de Ponto Cruz, não de tapeçaria. O arremate pelo direito fica evidente demais. O melhor modo de arrematar é usar a trama do tecido e os pontos dados no avesso. Quanto mais parecido ficar com o avesso do trabalho, melhor vai ficar um arremate. Um bom modo de descobrir como arrematar é olhar seu avesso. Se seu arremate conseguir imitar o padrão do avesso, ele ficará invisível. Assim, não existe um único modo de arrematar, sempre vai depender do padrão do avesso.  

9 comentários:

  1. Palmas para minha querida teacher!!! Falou e disse!! Eu nunca fui fã do avesso perfeito... tinha arrepios na espinha ao ver um trabalho arrematado pelo direito!!! Eu prezo por um avesso limpo e um direito regular!
    Beijocas

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  2. Paulaaaaa
    Arrasou no novo layout do blog!!!
    Beijocas

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  3. Rosangela Teofilo otoni1 de março de 2011 às 08:58

    Paula obrigada pelas suas palavras, elas abriram minha cabeça no momento que comecei a ler seu artigo.Mas que bobagem a nossa de querer a perfeição pelo avesso se o importante é o direito?O bordado é igual a nossa vida , não devemos ficar olhando para tras ,lembrando do que passou e não fizemos, o importante é seguir em frente.Quanto aos cursos ,pena que não tenha agenda para Minas.Entrarei na sua loja .Abraços Rosangela.

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  4. Paula, yo creo como tu que el reves perfecto es un mito, ya que conozco algunos reves perfectos y el derecho del bordado con una vuelta al derecho y la otra al lado contrario. Siempre digo a mis alumnas, lo importante es bordar muy bien el lado que vemos.

    escuelaleonviejo.blogspot.com

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  5. Olá... Gostei muito do seu artigo...
    Fiquei contente, pois aprendi a bordar sozinha e todos que olham os meus bordados, tem a "mania" de olharem apenas o avesso do trabalho. Isso me irrita tanto...
    Valeu mesmo pela sua explicação...

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  6. Olá, gostei muito do seu artigo, estava procurando sobre avesso perfeito e vc apareceu pra me esclarecer, aprendi a bordar sozinha, estou fazendo um jogo de cozinha "semaninha" E confesso q fiquei triste com meu avesso, não ficou perfeito, mas por outro lado eu amei o meu direito, agora estou mais aliviada qnto ao avesso perfeito, vou estudar e praticar mais o meu direito. Obrigada!

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  7. Estou lendo o seu texto em 2019. Amei!!! Parece q saiu da minha cabeça!!! Gostaria de ter lido há 20 anos.

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  8. Aprendi a bordar c 13 anos. E meu avesso era horroroso, mas o direito bonitinho. Fui treinando. Até q alguém me ensinou a arrematar no direito e fazer o avesso perfeito. Fiz assim por mto tempo, mas sempre c esse estranhamento de ver o avesso perfeito e achar q o meu direito não estava tão bom. Lendo isso hoje vejo onde preciso melhorar e q o correto é arretamar pelo avesso mesmo, como eu fazia muito tempo atrás. Gratidão

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  9. Boa tarde, lendo o artigo hoje, 19 de fevereiro de 2021. Demorei a iniciar no ponto cruz tanto pela técnica em si (a tradicional, que eu não consigo aprender de jeito nenhum ) e po essa questão do avesso. Não me deixei paralisar nem por uma e nem por outra questão e hoje bordo sem essa preocupação com o avesso e nem com técnica.

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